
A Literatura, historicamente, foi colocada como uma Arte mais literal e direta do que as outras. A dança precisa do corpo; a música, os sons; a pintura as cores, linhas, texturas, formas. O cinema pode ser tudo, ao mesmo tempo em que pode ser quase nada.
Pego-me refletindo sobre o que faço. A Literatura, ao longo desses 4 anos de expressão, nunca me abandonou. É uma das poucas coisas que, nos extremos de crise e sossego, pula na minha mente. Escreva.
Nunca achei a minha relação com o que escrevo tóxica. Muito pelo contrário: é uma das linguagens da Arte e isso significa que é uma forma de expressão emocional e política. Tem muito de política no que a humanidade faz e, no caso dos meus textos, eu só deixo muito claro. Todo mundo tem opiniões a dar.
O que me aflige, eu escrevo. O que me alegra, eu escrevo. O que fica dias, dias, dias na minha cabeça, eu escrevo. É como uma música chiclete: às vezes, a solução para tirar ela da sua cabeça é, curiosamente, escutá-la.
Ultimamente, sinto ser a talvez relação mais saudável com o que faço. Inclusive, muitas vezes uma música influencia bastante numa postagem. Acho isso bem interessante.
Cansei de fazer mundos pessimistas, ou otimistas, ou preto-no-branco para minhas histórias. Aprendi com Sang-Soo, o diretor do último post, que nossa vida é um grande “Deixa a vida me levar” em que, de novo e de novo, alguém responde “Vida, leva eu”. Não tem nada de excitante, à priori, no que eu estou escrevendo tal qual ninguém nasce com uma grande história pré-narrada. Só saudade. Todo mundo sente saudade. Há quem morra por ela, há quem viva por ela, há quem saiba lidar com ela.
Acho que me dou bem escrevendo por ter aprendido a me expressar desta forma. Sou, por vezes, objetivo até demais, reconheço. Mas tento não levar nessa literalidade toda. Deixo-me delirar um pouco, deixo-me fluir. Como no texto do fantasma: uma obsessão momentânea com várias filosofias, também momentâneas, que envolviam dúvidas e gostos meus, como Evangelion, que um dia talvez eu fale por aqui. Esse texto é um dos meus pequenos orgulhos, chaninho, xodó. Discordo muito do que já disse, mas sempre pretendo revisitar.
Publicado originalmente em 22/05/2024