Você vai e fica; voa e volta.

Quem nunca perdeu uma pessoa próxima, um amigo, um familiar? De fato, a perda faz parte da experiência de se viver. E talvez você seja o próximo.
A verdade é que a vida é um perfeito equilíbrio, de altos e baixos, de perdas e ganhos. Quem nunca perdeu algo ou alguém, nunca viveu.
Costumava experienciar a perda como uma tristeza estagnada.
Só aprendi a ser triste depois de perder e só aprendi a transmitir a minha tristeza depois de começar a escrever.
Quem nunca ganhou algo, entretanto? Quem nunca teve a vivência de ganhar um campeonato concorrido, passar em uma prova desafiadora?
Muitos dizem que já ganhamos quando nascemos. Somos o “espermatozoide que ganhou a corrida” – novas pesquisas discordam desse ponto, que eu já discordo há bastante tempo. Quem seriam nós, senão, frutos de algo que não escolhemos? E essa é a graça. Você pode aparecer na vida de alguém, mesmo sem ter pedido para nascer, mesmo sem ter o impulso de conversar com a pessoa, marcá-la e, logo após isso, morrer. Não. Morrer? Definitivamente não. Só estaremos mortos quando não deixarmos mais “marcas” em alguém. Quando não induzirmos ninguém à algo. Quando não influenciarmos, levarmos à reflexão.
Ou você acha que eu comecei a gostar de ouvir as canções da Mitski de forma natural?
Ou você acha que essa carta, sem destinatário informado, está sendo feita sem nenhum propósito?
“Que nos esqueçamos” – proferi em sua camiseta, lotada de mensagens bonitas e cheias de graça. O quão chato seria um indivíduo para, em uma mensagem de despedida, escrever tais coisas? É até anti-climático; sem noção; imoral.
Vale ressaltar que não é o esquecer no sentido de não lembrar de nada que passou comigo, mas o de entender que a sua vida vai seguir sem mim; e sem seus amigos; e sem seu país. Dói, eu sei, mas não é o fim do mundo.
Porém, o peso da saudade é maior que o da fome. Ou você acha que, às 22 horas, eu não preferia estar jantando? Estou aqui pensando no quanto te admiro e você sabe disso. A ansiedade me estrangula: você estava tão animada para a Bienal – que vamos amanhã.
Me deixa triste, mas eu te adoro e você sabe, Anna Beatriz.

Publicado originalmente em 03/09/2023

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